domingo, 18 de janeiro de 2015

Music, Tears and To Be Hungry - #40coisasantesdos40 - Parte 2

Para ler ouvindo Joy Division - Love will tear us apart:



Enfim a segunda parte (como se existissem fãs esperando ansiosamente o resto da estória). Então tudo começa na adolescencia e bla bla bla. Não lembro quando comecei a gostar de Joy Division, mas sim os caras são (juntando com The Smiths e outros poucos) os que me acompanham musicalmente desde a adolescencia. Meu vynil de Closer ainda resiste bravamente!!


Joy Division Tshirts - all mine

Quando decidi ir para Manchester automaticamente coloquei nos meus planos uma visita ao cemitério onde as cinzas de Ian Curtis estão enterradas - Macclesfield, que fica ao lado sendo apenas 30 minutos de trem. Fiz uma pesquisa em sites dedicados ao Joy e entendi que valia a pena mesmo já que era caminho para Oxford.
Durante a viagem fiz a minha lição de casa e terminei de ler o livro Ian Curtis - Tocando a distância escrito pela mulher dela Deborah Curtis. Coincidência ou não a sua amante Annik Honoré morreu com 56 anos em julho de 2014, época em que comecei a pesquisar a viagem. Lendo o livro tive um certeza plena de que Ian era muito perturbado. Ele amava Annik mas não largava a Deborah sem contar que quando realmente decidiu se divorciar ele vai lá e se mata na casa dela. Olha, que deprê. A genialidade em escrever musicas é inversamente proporcional a sua habilidade social. Claro que tem o fato da doença em si (ele era epiletico) mas também de acordo com Deborah ele chegou a dar umas porradas nela. Ai, eu já não gostei muito dele não.
Desmistificado o ídolo, sobrou o fato de que sim, ele é um grande letrista. Profundo, melancólico e muito deprimente. Misturado ao fato que é banda é fantástica, produziram discos que foram basicamente influência para todas as bandas de rock (boas) posteriormente. A dança epilética dele pode ser facilmente reconhecida em Renato Russo por exemplo (que era grande fã).
Tive a oportunidade de assistir ao Peter Hook em São Paulo tocando Unknown Pleasures na integra, chorei várias vezes, não acreditava que estava assistindo aquele show.


Macclesfield Train Station

Munida de uma sacola cheia de tranqueira que incluía também um vinil de Unknown Pleasures comprado em Manchester (olha que significado), tendo comido somente uns pedaços de frango e um suco de laranja no trem, desci na estação de trem e conforme estava descrito no roteiro peguei um táxi até o Cemitério (segundo do dia). Quando entro no taxi e peço para ir ao cemitério, o motorista já manda a pergunta: "Are you a Joy Division fan?" Yes, I am. " You look like one...!" Oh God!. Então o taxista um senhor muito simpático foi em todo o caminho falando para eu não ter nenhuma perspetiva com relação ao tamanho do túmulo, porque era apenas umam pedra e bla bla bla. Eu disse que já sabia, que tinha pesquisado e tinha um mapa de onde ficava o tumulo. Ele fez a gentileza de entrar no cemitério e me deixou a poucos metros da "pedra". A lapide não é original pois em 2008, um fã muito maluco roubou a mesma do cemitério. Essa alem de tudo é uma réplica (kkkkk).



Chegando ao cemitério, percebi que era bem vazio, tipo cemitério de filme de terror noir, arvores secas, túmulos velhos de 1000 anos e além disso ninguém lá. Muito segura de mim mesma, achando que teria um taxi rank na porta do cemitério dispensei o senhor taxista com uma gorjeta.
Então, enfim estava face to face com sua lapide. Ian Curtis o que falar para você, depois que fiquei sabendo que você um dia bateu em uma mulher.... Bom chamei ele de alguns nomes, mas depois tive que dar o braço a torcer sobre a sua carreira musical. E ver a lapide me deixou meio que sem reação. Olhei o que os fãs colocavam como tributo: moedas, isqueiros, cigarros, algumas velas, palhetas. Mas o que impressiona é o escrito mesmo: Ian Curtis 18-5-80 Love will Tear Us Apart. Música que conforme lenda foi escrita para Annik mas para mim é para Deborah ("yet there´s still this appeal that we´ve kept through our lives")  É uma música que eu gosto muito. Resolvi colocar o fone de ouvido e ouvi-la olhando para aquela lapide. Estranho? Pode parecer, mas foi intenso.

Strange picture of sad gravestone

Com 23 anos de idade Ian decidiu que não dava mais para continuar, muito intenso, sucesso rápido, letras densas e com muita tristeza, questionamentos, dúvidas... A dança epilética dele neste video da BBC faz com que algumas pessoas se sintam incomodadas. Eu acho demais!


No filme Control, que tive o prazer de assistir em Londres em 2007, ao final toca Atmosphere, para mim uma das músicas mais tristes do mundo. O clipe feito apos a morte de Ian, bem tosco na verdade, mostra várias fotos dele, acho triste e bucólico ao mesmo tempo.


Walk in silence,
Don't walk away, in silence.
See the danger,
Always danger,
Endless talking,
Life rebuilding,
Don't walk away.

Walk in silence,
Don't turn away, in silence.
Your confusion,
My illusion,
Worn like a mask of self-hate,
Confronts and then dies.
Don't walk away.

People like you find it easy,
Naked to see,
Walking on air.
Hunting by the rivers,
Through the streets,
Every corner abandoned too soon,
Set down with due care.
Don't walk away in silence,
Don't walk away



Cemetery
Então tanta emoção e pensamentos profundos me levaram a voltar a realidade e um corvo fez o seu som com bastante intensidade e olhei para os lados e sozinha estava... Penso em apertar o passo para buscar o taxi o mais rápido possível quando me encontro na saida do cemitério: zero taxi, zero pessoas, zero vida. Google it: já tinha visto que andando dava uns 25 minutos e carregando coisas então e com 4 graus e uma chuvinha fina imagina!! Rapidinho eu estaria na estação. No caminho nenhum taxi passou por mim. Cheguei cansada, esfomeada na estação e direto no guichê pedi o primeiro trem direto para Oxford. Sim depois de 2h30 ele iria passar. Tudo bem tinha um lugar tranquilo para esperar e depois de comprar mais um sanduíche de atum e um suco de laranja, nada mais importava não é verdade?
Foi um tédio de um tamanho sem fim mas consegui ter tempo o suficiente para pensar na experiência. Valia a pena visitar cemitérios de pessoas que não sabemos na verdade muito sobre elas? Quanto Deborah sofreu? Quanto Annik sofreu? Ela teve o direito de ver o funeral de maneira reservada, penso muito nela...
Mas admiro a volta por cima da banda que logo depois fundou o New Order uma banda que até hoje realiza shows (sem Peter Hook) com músicas que todo mundo conhece (quem nunca dançou Blue Monday). 
Quando cheguei em Oxford parecia que estava chegando no Paraíso. Estava muito cansada!!! E com fome, com sede...Foram dois dias sem regras alimentares.
Se valeu a pensa? Sim hoje penso que sim! Essa viagem fez com que eu tivesse que me expressar em inglês várias vezes para contar a mesma estória. Os estudantes adoraram ouvir o que eu fiz no final de semana, descobri afinidades musicais com os meus professores na EF. Essa experiência foi demais!

40 coisas antes dos 40 - Visitar o tumulo do Ian Curtis na Inglaterra -  Mission accomplished!!!

Trees above Ian´s gravestone










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